quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Anexo

Carta enviada com esta obra

Ao Chefe ***,
Presidente da Comissão Nacional de Crescimento,

Espontaneamente, aqueles que desejam contribuir para o bem do Movimento Escutista costumam oferecer parte de seu tempo livre, seja como dirigente num pequeno agrupamento, seja através de um alto posto na Diretoria Nacional, e, mesmo em se tratando de pessoas jurídicas, há os patrocínios.

Afastado actualmente do Movimento, mas ainda desejoso de oferecer minha contribuição, não encontro nada mais valioso entre meus bens do que a presente obra que lhe envio. E, se antes em meu tempo livre ajudava apenas um agrupamento, talvez agora através deste livro eu possa ajudar mais de um.

Não escrevi esta obra em linguagem erudita, nem a enchi de abstracções, pois não queria que se tornasse inacessível a boa parte dos dirigentes, nem desejei outra coisa que não fosse escrevê-la na linguagem mais clara possível, pois, se uma pessoa culta pode entender uma linguagem mais pobre, o contrário não acontece. E, como o objectivo não foi fazer literatura, mas expor determinadas ideias, não vejo melhor veículo de divulgação para elas do que uma obra sucinta e objectiva, redigida em linguagem acessível, perto da coloquial.

Desse modo, se não lhe parecer presunção que um ex-assistente de Unidade regule o funcionamento de um agrupamento, rogo que avalie a obra que lhe envio, e não julgue outra coisa senão a utilidade que ela possa ter noutras mãos, pois, se uma função limita a acção de um indivíduo, não creio que limite sua capacidade ou competência.

Se a U.E.B. deseja um testemunho fiel do que os dirigentes fazem em seus agrupamentos, de modo que ela possa corrigir este ou aquele vício da direcção destes, principalmente em se tratando «dos novos», para que eles comecem «com o pé direito», então tenho aqui esse testemunho.

Se pouparmos ao menos alguns agrupamentos dos erros mais grosseiros que existem (e é sempre mais fácil lidar com agrupamentos novos, que ainda não possuem hábitos, nem bons nem maus), já teremos realizado um grande feito. Entretanto, informar aos chefes sobre tais erros não basta; a maioria das pessoas pode perfeitamente entender um bom conselho, porque essa é a parte fácil. Porém, fazer com que elas sigam tais conselhos e esqueçam velhos vícios, isso é algo extremamente mais complexo e delicado, porque não é algo que está no campo da razão, acessível a todos, mas no campo das emoções; e este último campo requer uma obra igualmente emotiva ou viva, e, principalmente, «saber onde está a mecha para chegar-lhe o fogo», de modo que algo lá dentro do leitor se acenda. Por isso, fiz uso de vários recursos, tendo em mente o brasileiro médio e, por conseguinte, o chefe brasileiro médio, se é que os dois coincidem. Fazer uso de uma linguagem mais próxima da coloquial, recorrer ao mote «castigat ridendo mores», pois poucas coisas há que impregnem mais o espírito humano do que a pilhéria, procurar apresentar exemplos verossímeis, situações concretas, tudo isso aproxima a obra não só da compreensão do leitor médio, mas também de seu espírito e maneira de pensar, de modo que ele possa interessar-se pela matéria destas páginas ou, em último caso, não ficar indiferente.

A maior parte do comportamento dos chefes é adquirada de maneira informal, através da intimidade que possuem com outros chefes, isto é, através de conversas coloquiais, de piadas, de palavras às vezes cruas, que eles de modo algum expressam em público, mas que constituem seus pensamentos mais honestos; e é de acordo com esses pensamentos e opiniões que eles agem quando estão em seus agrupamentos, afastados de pessoas alheias à sua intimidade. Talvez o grande equívoco de muitas obras destinadas a orientar dirigentes seja exactamente ignorar que existe esse mundo informal em que eles agem. É claro que todos os chefes dizem diante de estranhos: — «No meu agrupamento fazemos tudo segundo o P.O.R.», mas, na intimidade, conversando com seus amigos assistentes, há aqueles que dizem: — «Parvoíce! façamos como estamos acostumados!» Porém, da mesma forma que eles aprenderam a pensar de um jeito X, eles podem aprender a pensar de outro modo (e portanto a agir de outro modo) se empregarmos os mesmos meios que os levaram a pensar daquela maneira X. Esses meios geralmente são a opinião de um chefe que eles admiram (e «admirar» está no campo das emoções e não no da razão), uma boa piada, uma conversa informal em que há mais «emoção» do que «razão», etc. Simplesmente informá-los sobre o certo e o errado, como se todas as pessoas fossem perfeitas e não possuíssem defeitos salvo a ignorância, ou como se todos fossem robôs e não houvesse Psicologia, é de facto uma grande ingenuidade; porque há aqueles chefes que agem de maneira errada e estão cientes disso, ou agem à sua maneira porque a consideram melhor que qualquer determinação da U.E.B. ou qualquer regulamento. Além da informação pura e simples, é preciso encontrar meios de mexer emotivamente com eles, de modo que as ideias que queremos levar adiante sejam adoptadas por eles, isto é, de modo que elas venham a fazer parte de sua intimidade, de suas anedotas, de sua maneira de pensar e, por conseguinte, de sua maneira de agir.

Se a CNC tiver interesse de publicar a presente obra, NO TODO OU EM PARTE, ficarei feliz por autorizar a publicação da mesma [uma vez que à época já se encontrava registada], desde que não haja lucro, de forma a baixar o preço do exemplar na loja escutista, ou, havendo lucro, que ele seja destinado integralmente à CNC.

Ademais, havendo tal interesse, que seja observado o artigo 17 da Resolução nº 008/95 da U.E.B., que trata de obras bibliográficas.

«Sempre Alerta Para Servir!»
29 de junho de 2008
Breno Melo de Matos

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