quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Diálogo I

Sobre abrir um agrupamento, tipos de agrupamentos, patrocínios, primeiros interessados, como iniciar uma Secção, escolha dos Guias, primeiro acampamento


1

Era uma tarde de verão e conversavam. Não citarei nomes, mas darei a cada personagem o nome de uma letra do Alfabeto Fonético Internacional. Há-de bastar. No rosto de Ròmeo, portanto, houve um sorriso antes que propusesse a ideia. Bravo, vendo-o, imaginou alguma piada. Talvez realmente fosse...

— «Vamos abrir um agrupamento», disse Ròmeo.

Bravo sorriu. Não é que ele visse na proposta alguma piada, mas a ideia apetecia-lhe. Os dois estavam de acordo e houve uma conversa animada, acalorada até. Ambos já tinham sido escuteiros.

— «Que é preciso para se abrir um agrupamento?» pergunta Ròmeo.

— «Chefes, escuteiros e, muito apropriadamente, uma sede. Creio que já possamos contar com dois chefes, tu e eu.»

— «Há agrupamentos que não possuem uma sede...»

— «Talvez não tenhamos uma para começar, mas em todo caso precisamos de um lugar para as reuniões. Talvez uma escola possa ceder-nos seu pátio nos fins-de-semana, quando não há aulas. O 72, por exemplo, tem reuniões num CIEP. Quanto a nós, talvez alcancemos mais facilmente a boa vontade de uma escola municipal. Creio que tenhas mais contactos do que eu.»

— «Acho que posso dar um jeito», diz animado.

— «Mas a localização da sede é importante. Actualmente temos três agrupamentos em nossa cidade, brevemente quatro, e cada um desses três existentes possui características próprias. O 72 é um agrupamento, por assim dizer, "de bairro"; atende aos moradores de um bairro em particular, porque a maior parte de seus elementos é daí. O bairro identifica-se com o agrupamento e a maior parte de seu quadro de dirigentes é formada pelos pais dos próprios escuteiros. Seus elementos possuem padrão de vida e características sociais típicos do bairro onde vivem. Pois bem! Vejamos agora o caso do 21. Está situado no centro da cidade e recebe escuteiros de várias partes da cidade. Não é, portanto, o que costumo chamar de um agrupamento "de bairro". Os pais estão mais afastados dele e, quando digo afastados, não quero dizer apenas geograficamente. No 21, como sabes, os chefes geralmente são ex-escuteiros. E estes também são aqueles que permanecem na chefia por mais tempo. Entre estes chefes e o agrupamento há um laço que os une por maior tempo. Entretanto, não há o vínculo que um meio humano pequeno e homogéneo impõe. Seus escuteiros, vindos de diversas partes da cidade, integram famílias que possuem padrões de vida e poderes de compra completamente diferentes.»

— «Todos os chefes do 21, actualmente, são ex-escuteiros. Estão no agrupamento há muito tempo. Os pais que nunca tinham sido escuteiros e que se tornaram chefes duraram pouco tempo como dirigentes.»

— «Agora vejamos o caso do 82.»

— «Ainda podemos visitar esse agrupamento?» diz Ròmeo e ri-se ao mesmo tempo. «Depois daquele acampamento, já não sei. Ficamos proibidos de ver as Marinheiras.»

— «É uma pena: elas eram bonitas e ainda estávamos na Frota. Mas acho que agora o castigo deve ter passado. Além do mais, já não somos tão jovens e inconsequentes!»

— «Sim! Agora somos apenas inconsequentes!»

— «Mas voltemos ao assunto.»

— «Calro. Continua.»

— «O 82 está muito afastado do centro da cidade e podemos chamá-lo de um agrupamento "isolado" [mantém pouco ou nenhum contacto com outros agrupamentos]. É também um agrupamento "de bairro" e atende praticamente a um só bairro naquelas bandas longínquas da cidade. Seus chefes, em sua maioria, são os próprios pais dos escuteiros. Dos três, é aquele que atende ao bairro mais pobre. O 21 participaria numa actividade grande (cara, portanto) mais facilmente que o 82. As actividades consomem dinheiro, tu sabes.»

— «Nem todo escuteiro tem condições de participar nesta ou naquela actividade.»

— «Então, se fôssemos abrir um agrupamento num bairro pobre, não deveríamos iludir-nos. Mas vê bem: não estou a dizer que se não possa começar um agrupamento num bairro desses. O que estou a dizer é que a localização do agrupamento influenciará grandemente a vida dele. Devemos ter em mente o que teremos pela frente e estar dispostos a continuar. Ignorar o que pode ou não suceder não é lá muito inteligente.»

— «Então, em que bairro deveríamos abrir um agrupamento?»

— «Talvez exactamente num bairro mais pobre que rico.»

— «Mas isso não é o contrário do que estavas a dizer?» pergunta Ròmeo, mais sério do que uns minutos atrás.

— «Absolutamente! Vejamos o caso do 72 com mais calma. Eles não possuem uma sede nem contam com grandes facilidades para isto ou aquilo, mas sempre estão a fazer actividades e a ter boas reuniões. Em matéria de recursos humanos eles vão muito bem, obrigado!, à frente de muitos agrupamentos que possuem sede e outros bens. Há agrupamentos que fecham as portas de suas sedes e deixam de funcionar simplesmente por falta de recursos humanos! Eis aí, justamente, o que deve vir em primeiro lugar. Num agrupamento, estamos a ver, o entusiasmo é tudo.»

— «E no momento tudo o que temos é entusiasmo!» diz Ròmeo, em risos.

— «Exactamente. Devemos contar em primeiro lugar com o que temos e, não, com aquilo que talvez tenhamos. Um agrupamento pode conseguir um patrocínio, alguns de facto o conseguem, mas não são todos, tenhamos isso em mente.»

— «Como se consegue um patrocínio?»

— «Vejamos o caso do 72 outra vez. Há um grande estaleiro naquele bairro da cidade e muitos escuteiros são filhos de operários dessa empresa. Há, portanto, uma relação entre aquele bairro, esse estaleiro e o agrupamento. Recorda que, pelo menos até um tempo atrás, era comum que grandes empresas investissem em "políticas de boa vizinhança" (que é a expressão que eles usam), implantando, por exemplo, um clube de recreio nos bairros em que se instalavam. Nesse caso, perece-me que se pode conseguir um patrocínio mais facilmente. O estaleiro doou um terreno ao 72 para a construção de uma sede. Isso não é exactamente um patrocínio, pois não é uma ajuda oferecida com regularidade, mas de qualquer modo é um precedente e abre caminho para um futuro e provável patrocínio.»

— «No momento, não vejo como conseguiríamos um patrocínio.»

— «Com patrocínio ou não, abriremos o agrupamento. Devemos cuidar em primeiro lugar daquilo que será a base dele. Estou a falar de coisas que determinarão como ele será a longo e a curto prazo.»

Segue-se algum silêncio. Acima deles brilha um sol de verão.


2

— «Já falamos sobre a sede do futuro agrupamento e a importância de sua localização», diz Ròmeo. «Sobre que mais deveríamos falar?»

— «Temos que reunir os primeiros interessados de modo que se possa abrir uma Secção. Estou a falar tanto de rapazes como de seus respectivos pais, porque estes têm de autorizar a participação dos filhos e, ao menos alguns deles, deveriam cuidar da direcção do agrupamento.»

— «Nunca começamos nada do zero. Fomos escuteiros num agrupamento aberto já há muito tempo e todas as tradições achavam-se assentadas. Manter um agrupamento é uma coisa; começá-lo é outra. Então, vejamos: como é que nascem os agrupamentos? Não creio que sejam trazidos no bico da cegonha!»

— «Tanto eu como tu temos a mesma experiência nisso. Sendo assim, vejamos quais são os melhores exemplos que temos à nossa disposição. As primeiras Patrulhas, como sabemos, surgiram após a publicação de Escutismo Para Rapazes. Os rapazes que tinham lido o livro organizavam-se em Patrulhas e convidavam um adulto a ser chefe. Pois bem! Se na criação do Universo o que houve primeiro foi o Verbo, na criação do Escutismo o que houve primeiro foi o livro de B.-P., que tão-pouco deixa de ser verbo e determinou o aparecimento das primeiras Patrulhas. O chefe veio depois. Essa foi a ordem natural das coisas.»

— «Parece que faremos o contrário disso. Por enquanto, só há dois chefes e nenhum escuteiro.»

— «Talvez já tenhamos alguns parentes interessados. Algum primo mais novo que tenha achado graça em alguma história que contámos sobre alguma actividade. Superficialmente eles podem achar que fomos uns parvos nesta ou naquela ocasião, mas, no fundo, podem realmente ter-se interessado. Basta consultar aqueles que já estejam em idade para ingressar numa Secção.»

— «Creio que eu já tenha a quem convidar. Depois, certamente, haverá mais interessados. E, para começar, não precisamos de muitos. Ou é preciso que haja quatro Patrulhas numa Unidade para começar?»

— «Na verdade o melhor é começar com poucos. É o melhor conselho que conheço [o do cap. Roland E. Phillipps, in O Sistema de Patrulhas]. Em tempo algum uma Unidade precisa de ter exactamente quatro Patrulhas e, para começar, podemos convocar uns dez interessados.»

— «Dez é um número pequeno. Só uma dezena?»

— «Esses dez darão início a um Grupo Explorador. É daí que virão os futuros Guias e sub-Guias. Durante alguns meses, essa dezena de rapazes será uma só Patrulha. Não importa que uma Patrulha exploradora [no Brasil] deva ter, rigorosamente, de 6 a 8 elementos. O que importa é que ensinaremos esses poucos rapazes a agir como uma autêntica Patrulha. Uma senhora Patrulha, aliás! E durante alguns meses poderemos ver na prática aqueles que possam desempenhar melhor o papel de Guia de Patrulha.»

— «Não faz mal que haja dez numa só Patrulha?»

— «Nesse caso, não. É apenas para começar. E digo dez em vez de 6 ou 8 porque não sabemos quantos comparecerão regularmente nas reuniões até que façam a Promessa Escutista. É de esperar que alguns desistam ou não sirvam para a função de Guia de Patrulha mais tarde, quando formaremos um Grupo Explorador com, digamos, quatro Patrulhas. Além do demais, não devemos iniciar uma Secção do zero repentinamente. Num dia não tens nenhum escuteiro, mas, de repente, no dia seguinte, lá estão 32 novatos a gritar "chefe, chefe!" como uma ninhada de pintinhos atrás de uma Mamãe Galinha atormentada. E não haveria nenhum Guia de Patrulha experiente para nos ajudar. Imagina-o! Seria correcto? Os Guias devem ter alguma experiência prévia e, via de regra, devemos cuidar directamente dos Guias para que, através deles, cuidemos indirectamente de toda a Secção.»

— «Uma dezena é um número até pequeno. Talvez consigamos mais do que isso. E, se desde o início tivermos um número suficiente de interessados para compormos pelo menos duas ou três Patrulhas, talvez quatro, cada uma com 6 ou 8 elementos?»

— «Nesse caso, creio que o melhor conselho ainda seja começar com poucos. Eu disse dez, mas poderia ter dito 8 ou 9. Talvez não tenhamos dez interessados para dar início a uma Unidade. De qualquer modo, suponhamos já dispor de dez, doze interessados para o começo de tudo. Não seria boa ideia formarmos duas Patrulhas inexperientes. E direi o porquê. Não poderemos avaliar de antemão os mais aptos para a função de Guia de Patrulha. Tu sabes, todo o mundo experiente sabe: não são todos os rapazes que desempenham bem essa função e, geralmente, os que chegam a ser bons Guias tiveram de ser, antes, bons sub-Guias. E aqui chegamos a um ponto muito importante. O Guia deve preparar seu sub para assumir a Patrulha no futuro ou em sua ausência. É um dos deveres sagrados da função. Certa Patrulha que vença todas as competições sob o comando de certo Guia e, depois, passe a ser a última de sua Secção quando o sub assume é no mínimo de estranhar. Será que foi apenas uma mudança da água para o vinho? Porque isso não aconteceu antes? Será que a culpa é só do antigo sub? Se havia outros 7 elementos na Patrulha que poderiam ter sido preparados pelo Guia para assumir a função, porque nenhum deles pôde ser bem aproveitado? O Guia não fez uma boa escolha porque não teve tempo de conhecer seus escuteiros? Pensemos com calma. A mesma tragédia ocorre, às vezes, entre chefes e assistentes. É também dever sagrado do chefe preparar seus assistentes tanto para o futuro como para eventualidades próximas.»

— «Acho que entendo. Começar com três ou quatro Patrulhas não é a melhor maneira. Atender pessoalmente a 20 ou 30 novatos numa Unidade não é trabalho para o chefe.»

— «E, se ele sofrivelmente dá conta da situação ou simplesmente vai deixando o barco andar, e alguns chefes o fazem, significa que ele poderia cuidar dos Guias com maior eficácia do que tem feito ultimamente. E estes, como compete a eles, cuidariam do resto da Secção simplesmente cuidando de suas Patrulhas.»

— «Faz sentido.»

— «Nem deve cada chefe ou assistente assumir uma Patrulha como se não houvesse um Guia, ou porque este é inexperiente para desempenhar a função. Não queremos que os Guias sirvam apenas para segurar as varas de Patrulha e nada mais.»

— «Exactamente. Mas, quanto a mudar da água para o vinho, não me parece má ideia. Como sabes, vinho é melhor que água», diz Ròmeo e ri-se. Bravo concorda e a conversa é retomada.

— «Vamos preparar pessoalmente esses primeiros rapazes para que sejam os primeiros Guias», diz Bravo.

— «Creio que agora eu entenda melhor porque devemos começar com poucos. Certamente não escolheremos os Guias de cada Patrulha sempre e sempre, mas seguramente escolheremos os primeiros Guias da Unidade; e parece que não elegemos estes de maneira muito diferente de como eles devem eleger seus subs, senão vendo, experimentando, formando-os e ensinando-os.»

— «É claro que os Guias, em teoria, são sempre Guias. Mas, na prática, é preciso que o chefe deixe que o rapaz cuide de sua Patrulha. Há chefes que não carregam bandeirolas de Patrulha, mas são mais Guias do que os próprios Guias!» diz Bravo e acrescenta: — «Em nossa Unidade não há-de ser assim. Entendo perfeitamente que muitos chefes queiram fazer reviver o tempo em que foram escuteiros, mas isso pode ser facilmente resolvido. Basta que os chefes de uma cidade ou Região se reúnam e façam uma actividade. Um acampamento para chefes, por exemplo. Certamente alguém deve dispor-se a organizar e comandar a actividade, e mesmo este poderá participar nos jogos e nos demais itens do programa se houver um revezamento entre os bons espíritos que se dispuserem a cuidar de tudo.»

— «Uma actividade só para chefes não me parece má ideia.»

— «Tenho a certeza de que não seria. Mas, voltando a falar sobre começar com poucos...»

— «Enquanto fizermos isso, o número de inscritos na lista de espera certamente crescerá. Ao longo de alguns meses, talvez já tenhamos o bastante para compormos duas ou três Patrulhas. Quanto tempo achas que leva até que convoquemos os demais?»

— «Creio que uns três ou quatro meses de boas reuniões sejam o bastante. Veremos. O importante é que tenhamos tempo de ensinar ao menos a maioria dos rapazes dessa primeira leva a agir como Patrulha. Estou a falar que eles terão de escolher o animal totem, o grito e as cores de uma Patrulha que não chegará a existir oficialmente, mas que existirá por breve tempo para que aprendam como é. Também devem escolher entre si um Guia e um sub-Guia e, porque não?, produzir uma bandeirola (ainda que seja de papel e cola), obter uma vara, fazer distintivos de Patrulha, etc. Terão ainda de realizar as provas da Etapa de Adesão. Um Guia sem a Promessa não seria um bom exemplo e, pensando bem, não seria sequer um escuteiro na verdade. Assim, eles terão aprendido a ser uma Patrulha. Quanto a nós, teremos de preparar reuniões típicas de Patrulha e, não, de Grupo. São duas espécies diferentes de reuniões.»

— «Nunca tivemos esse tipo de reunião.»

— «Infelizmente não. É mais uma novidade que teremos pela frente.»

— «E como fazemos isso?»

— «Quanto aos jogos, temos de separar a Patrulha em metades. Uma delas ficará sob a liderança do Guia; a outra, sob o comando do sub. Portanto, Guia e sub-Guia serão adversários durante os jogos.»

— «Nunca tivemos isso em nosso antigo agrupamento, isto é, nossas Patrulhas nunca tiveram esse costume.»

— «Infelizmente não. Mas não é uma coisa complicada. Numa Secção já formada, quando há reuniões de Patrulha, são os próprios Guias e sub-Guias que a preparam e a executam. Nesse momento, Guia e sub-Guia são parceiros e a instrução que a Patrulha recebe é aquela de interesse de todos os seus elementos, mas que não faça parte do programa da Secção. Ou, ainda, alguma instrução que seja parte do programa da Secção e a Patrulha deseje reforçar para vencer mais facilmente as rivais nas competições entre Patrulhas. Geralmente as reuniões de Patrulha compensam algum ponto fraco da mesma, e ocorrem quinzenal ou semanalmente.»

— «Não me parece complicado.»

— «Na verdade, não o é. Ou, se o for, descobriremos mais tarde. Tu sabes, só estou acostumado a reuniões de Grupo, tanto a participar nelas como a prepará-las e executá-las.»


3

— «Achas (ainda estou em dúvida) que realmente devemos começar com dez ou doze?»

— «Na verdade podemos começar com mais ou com menos. Dependerá da frequência dos rapazes. Vê: se convocarmos doze e, na prática, só comparecerem regularmente nas reuniões 6 ou 8, então doze ou quinze não me parece ser muito. Provavelmente estaremos a lidar com rapazes que não conhecem o Movimento Escutista e não podemos dizer de antemão se eles gostam do Movimento. É diferente de receber uns poucos noviços numa Secção já constituída.»

— «Suponhamos que dez compareçam com regularidade. Teremos cinco Patrulhas afinal de contas? De dez podemos tirar cinco Guias e cinco subs. Existem Unidades com cinco Patrulhas?»

— «Não poderíamos ter uma Secção com cinco Patrulhas. Quatro para nós [no Brasil] é o máximo. Mas não devemos pensar que de dez escuteiros poderemos tirar meia dezena de bons Guias. Nada nos garante que será assim. Devemos prestar atenção àqueles rapazes que naturalmente acabam por exercer a liderança na Patrulha [tenhamos em mente que Bravo refere-se àquela primeira leva de novatos, da qual sairão os primeiros Guias do futuro Grupo ou Flotilha]. Aqueles que mais incentivam e orientam os demais já reúnem boas qualidades para a função. Não devemos preocupar-nos se apenas um, a princípio, for escolhido pelos outros como Guia de Patrulha. Isso acontecerá num primeiro momento em que eles não se conheçam o suficientemente bem. Devemos estar atentos ao que acontecerá ao longo de alguns meses. Agora, suponhamos que ao longo de alguns meses tenhamos rapazes em número suficiente na lista de espera para compormos quatro Patrulhas.»

— «Isso seria muito bom.»

- "Seria óptimo! Quanto mais gente interessada, melhor. E não estou a falar apenas de jovens, mas também de adultos. Agora vê; a questão é exactamente esta: que virá primeiro em nossa Secção? Qualidade ou quantidade? Suponhamos já ter em nossa lista de espera uma quantidade suficiente de interessados para constituirmos quatro Patrulhas. Faríamos isso ainda que não tivéssemos quatro bons Guias à disposição?»

— «Tens razão! E, além do mais, quando éramos Marinheiros, em nossa Frota só havia duas Equipagens e, antes de nós, nenhuma! Está aí uma coisa que começamos do zero!» diz Ròmeo. «Ou ao menos a casa estava vazia quando chegamos.»

— «Realmente. Começamos do nada ou praticamente do nada. Mas a maioria de nós já tinha feito parte da Flotilha. Não vínhamos do nada e para o nada! Tínhamos sede e, bem ou mal, todo o material de campo.»

— «Na verdade, mal; muito mal! Tínhamos até um lampião a querosene. Verdadeira peça de museu!»

— «Vejamos isso pelo lado bom. Nunca chegamos a usá-lo. Não seria nada prático transportá-lo. Era mais para enfeite que para outra coisa. De qualquer modo, creio que a Frota fosse apegada a ele. Em último caso, sempre encontrávamos no lampião um motivo para fazer piada. Tu sabes, quando o primeiro escuteiro acampou em Brownsea ele levava esse lampião consigo, mas, mesmo naquele tempo, já era um lampião de segunda mão.»

— «Verdade. Mas entendo o que querias dizer. É melhor ter duas ou três Patrulhas boas do que quatro mancas ou razoáveis.»

— «Isso começa pela escolha dos Guias e sub-Guias. As verdadeiras reuniões de Grupo terão início daí por diante.»

— «E depois? Essa primeira Patrulha "informal" acaba?»

— «Na verdade não. Ela ressuscitará aqui e ali para fins de instrução. Poderá ser composta pelos Guias e subs, e não só pelos Guias, principalmente se tivermos uma Secção pequena. Há actividades só para esses, tu sabes.»

— «Claro! Nunca tivemos isso!»

— «Mas teremos em breve. Verás. Antes que façamos o primeiro acampamento de Unidade, devemos fazer um acampamento com a Patrulha de instrução, que há pouco chamaste de "informal". Talvez alguém a conheça pelo nome de Patrulha de adestramento. É preciso que ao menos os Guias tenham alguma experiência prévia quando houver o primeiro acampamento de Unidade.»

— «Trinta e dois escuteiros inexperientes que decidam acampar da noite para o dia seria, no mínimo, catastrófico! Se alguém quisesse escrever a Bíblia do Movimento Escutista, essa parte seguramente seria o Apocalipse. Eu não gostaria de passar por isso!»

— «Muito menos eu! Não queremos traumatizar nossos escuteiros justamente em seu primeiro acampamento, senão teremos de fazer só reuniões de Grupo até que todos tenham passado para a 3ª Secção.»

— «Alguns escuteiros sentem pavor ou indiferença quando o assunto é acampar. Nós, pelo contrário, sentimos entusiasmo, não sentimos? Mas isso nos acontece sem motivo?»

— «Há pessoas que realmente não gostam de acampar, mas, antes de tudo, é preciso oferecer-lhes um bom acampamento para que decidam se realmente gostam ou não. É facílimo não gostar quando se trata de qualquer má actividade.»


4

O portão do jardim-de-infância abre-se do outro lado da rua. Várias crianças saem e uma delas é o irmão mais novo de Ròmeo.

— «Agora tenho que ir. Mas voltamos a conversar depois, não voltamos?»

— «Claro! Há mais para conversar. Olha, teu irmão já está a sair», diz Bravo. «E pensa bem se desejas levar esta história adiante.»

— «Não te preocupes. Já estava a pensar nisto.»

Bravo e Ròmeo põem-se a andar em direcções opostas. Amanhã será outro dia.

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