quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Prefácio

Como vai teu Escutismo?

Este livro é constituído por doze diálogos seleccionados, cujo tema é, invariavelmente, o Escutismo. Creio que a abertura de um agrupamento seja, mais que a oportunidade de propagar o Movimento Escutista, uma forma de corrigir velhos hábitos adquiridos por ex-membros e, também, impedir que novos interessados pelo Movimento adquiram arraigados cacoetes. Seguramente não ouso pensar que todos os agrupamentos existentes funcionem às mil maravilhas. Cem por cento de bons agrupamentos seria o ideal, mas receio que ainda não tenhamos chegado lá e, quanto a agrupamentos novos, eles não estariam menos livres deste ou daquele tropeço. Sendo assim, procurei falar sobre os erros mais grosseiros que um chefe poderia cometer, dentre aqueles que realmente chegam a acontecer. Todos os diálogos aqui presentes giram à volta da ideia de se abrir um agrupamento e fazê-lo funcionar à perfeição. Mas talvez os dirigentes de agrupamentos já estabelecidos queiram dar uma olhada a esta obra também...

Imaginar todas as situações favoráveis e aconselhar como agir seria o mesmo que dar conselhos dentro de uma utopia, em que tudo é perfeito e possível. Entretanto, isso não corresponderia à realidade. O próprio Roosvelt, presidente americano que incentivava o Escutismo, dizia que deveríamos olhar para as estrelas, mas com os pés bem fincados no chão. De facto, só haverá soluções praticáveis para problemas verossímeis. E, para sermos honestos, não raro há mais problemas a resolver do que situações favoráveis.

Um dos diálogos versa sobre o tema «Porque fecham os agrupamentos de escuteiros». Talvez alguém diga: — «Falar de seu fechamento não seria contrário à ideia dos diálogos, já que falam da abertura de novos agrupamentos?» Pois eu direi que, antes de incentivarmos sua existência efémera, devemos, isso sim, preparar as bases mais sólidas possíveis para seu crescimento.

Estes diálogos, portanto, tratam de problemas que se manifestam, sobremaneira, a longo prazo, mas cujas sementes são deitadas ao solo nos primeiros tempos do agrupamento. Se o abrimos, temos a obrigação moral de o manter a funcionar por longo tempo, tanto quanto seja possível, isto é, criar bases que o sustentem por décadas e décadas. Os que virão depois de nós agradecem.

Quanto ao texto, se chega a ser uma obra extensa, não cansará o leitor pouco afeito a leituras. Os diálogos foram escritos numa linguagem muito próxima da coloquial, com aqueles erros característicos que só nos permitimos na intimidade, sendo que cada diálogo pode ser lido à parte. E, se a linguagem é simples, alguns pensamentos aqui expostos, entretanto, não o são.

Quanto à maneira de abordar o leitor, não procurei ditar regras; pelo contrário: procurei sugerir e fazer reflectir mais do que impor uma forma de agir ou pensar. Entender bem qualquer situação é o primeiro passo para a modificar. E aquilo que levou tempo para ser compreendido por alguém, talvez sirva àqueles que estão a começar hoje e não têm tempo a perder. Ou, ainda, àqueles que começaram ontem, mas, igualmente, não têm tempo a perder. Aqui está, em linhas gerais, o que um agrupamento deveria saber para evitar ao menos os erros mais notáveis quando lida com seu bem mais precioso, isto é, seus recursos humanos. Afinal, nunca ouvi falar de um agrupamento que fechasse por escassez ou penúria de materiais, pois havendo gente interessada tudo se consegue, mas, se fecham, é por extrema falta de entusiasmo de seus elementos. Se alguém apresenta como desculpa outro motivo que não seja esse, provavelmente será só uma desculpa mesmo. Há agrupamentos que, embora não possuam uma sede própria, ao menos têm acesso a um local adequado para as reuniões. Quanto ao material de campo? Guarda-se aqui e ali, na casa de alguns elementos mais responsáveis.

Isso mostra por que razão agrupamentos de poucos recursos sobrevivem, ao passo que outros, tendo inúmeras facilidades, fecham as portas por falta de pessoal, mas garanto que nunca vi um em que houvesse uma debandada geral e repentina. Se as pessoas vão deixando o agrupamento pouco a pouco até que ele feche, isso é o resultado de um processo que começa cinco, dez anos antes, e por culpa exclusiva daqueles que se mantiveram à frente do agrupamento durante esse período. Não digo que o façam de propósito, mas de um modo ou de outro eles o fazem, porque dirigem o agrupamento.

Creio que, mesmo afastado actualmente do Movimento, eu ainda possa dar minha contribuição. É sempre bom pensar que novos agrupamentos estão a surgir e que, num futuro longínquo ou próximo, teremos tantos escuteiros no Brasil como noutros países. Não estou a falar de números absolutos, obviamente, se estivermos a pensar nos Estados Unidos, mas ao menos é agradável pensar assim a respeito de números relativos. O Escutismo no Brasil, certamente, ainda não chegou ao seu auge.

Desse modo, eu pergunto: Como vai teu Escutismo?

Breno Melo de Matos

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