sábado, 26 de dezembro de 2009

Diálogo XI

Sobre competições entre Patrulhas, maneiras de fazer a contagem de pontos, vícios na contagem e outros fins inadequados a ela, bandeirolas de eficiência, e outras sugestões


1

— «Na Flotilha ganhávamos pontos», dizia Ròmeo, voltando atrás no tempo alguns anos, «e, depois de doze meses, havia a Tripulação campeã, prestigiada com uma bandeirola de eficiência. Na Frota, entretanto, não tivemos isso, até mesmo porque os jogos eram raros e, se vencíamos, isso era tudo.»

— «A competição entre Patrulhas também deve existir no Grupo Pioneiro. Infelizmente não tínhamos uma bandeirola de eficiência que almejássemos e os jogos eram escassos, como tu mesmo já disseste. Entretanto, a contagem de pontos merece alguns cuidados.»

— «Lembro que, na Flotilha, pontos eram perdidos durante a inspecção do uniforme. Não era o chefe, mas o Timoneiro de uma Tripulação rival que fazia a avaliação do asseio. Ainda que uns fossem mais rígidos do que os outros, eles pareciam-me sinceros durante essa rotina. Eu, por exemplo, nunca exagerei ou me senti prejudicado. Mas receio que não pudesse ser assim em todos as Secções do mundo o tempo todo e, até mesmo em nossa Flotilha, porque uns eram mais rígidos do que os outros, alguma coisa ainda não ia bem.»

— «De qualquer modo, nesse caso, não ganhávamos pontos pelo asseio, mas perdíamos um ponto por cada item do uniforme que estivesse ausente ou em mau estado. Quanto ao lenço de bolso, pedíamos que o Moço no-lo mostrasse.»

— «No quesito presença, creio que também usássemos os pontos negativos.»

— «É sempre a melhor coisa a fazer. Nem todas as Tripulações de nossa antiga Flotilha tinham o mesmo número de elementos ou, se o tinham, isso não durava para sempre. Sendo assim, imaginemos duas Patrulhas: uma com oito elementos e outra com seis. Se lhes déssemos pontos positivos, isto é, um ponto por cada explorador presente, por exemplo, e se ambas as Patrulhas sempre tivessem 100% de assiduidade, ainda assim a Patrulha menos "populosa" jamais poderia superar sua rival quanto à presença. Seria muito injusto se fosse assim.»

— «Receio que nem sempre a contagem de pontos tenha sido feita da maneira mais justa. Já houve o tempo em que uma Tripulação de nossa antiga Flotilha que não ganhasse muitos pontos com os jogos, era capaz de compensar isso através dos pontos positivos adquiridos através do quesito presença. Saía-se vitoriosa afinal de contas.»

— «Felizmente isso foi corrigido mais tarde. Estar asseado e frequentar as reuniões, a menos que haja uma justificativa, é um compromisso que os escuteiros assumem quando entram na Unidade. Não lhes devemos dar pontos quando agem desse modo, mas, quanto aos quesitos asseio e presença, fazer uso de pontos negativos.»

— «Quiseste dizer justificativas e, não, desculpas esfarrapadas, certo?»

- "Imprevistos acontecem, mas sempre que possível o escuteiro deve comunicar sua ausência ao chefe com antecedência, por si mesmo ou através de seus companheiros de Patrulha. Quando houver uma justificativa (e não uma desculpa qualquer), não se deve descontar pontos do escuteiro em questão. Quanto ao uniforme, deve ser a mesma coisa.»

— «Algumas desculpas esfarrapadas são realmente engraçadas.»

— «De facto o são. Mas o chefe não deve aceitá-las ainda que possa rir-se da piada. Lembro-me daquele Moço que disse "Não pude vir com o lenço de agrupamento [no Brasil, cada agrupamento tem seu próprio lenço ou necker] hoje, pois minha mãe teve de o usar como fralda ao trocar a meu irmãozinho bebé" (e não é que o lenço era realmente todo branco?) ou "Eu só lavei meu uniforme ontem à noite e, hoje pela manhã, por incrível que pareça, ele ainda estava molhado"?»

— «Ele teve a semana toda para lavar o uniforme!»

— «Nesse caso, podemos dizer que era uma desculpa esfarrapada, porque lavar o uniforme só dependia dele; não era uma coisa sujeita a imprevistos.»

— «Mas, quanto ao quesito jogos, os pontos valiam mais.»

— «A contagem de pontos deve ter uma finalidade. Qual seria?»

— «Bem... manter em ordem a Secção e incentivar a competição entre Patrulhas.»

— «Que mais?»

— «Refrear algum escuteiro indisciplinado, talvez.»

— «Quanto à indisciplina, isso não se trata de competição entre Patrulhas. É uma coisa que tem a ver com um escuteiro apenas. A Patrulha, creio eu, não deve ser prejudicada por este ou aquele escuteiro menos aplicado. Além do mais, não devemos usar a contagem de pontos para resolver todos os problemas da Secção. Indisciplina e descumprimento da Lei Escutista são casos para o Conselho de Guias de Patrulha. Não substituamos uma coisa pela outra! Façamos também distinção entre comportamento "individual" e aquele "da Patrulha como um todo". Imagina que algum escuteiro não ligue importância alguma aos pontos que sua Patrulha perde por causa dele. É justo deixarmos que ele continue com isso? Creio piamente que os outros rapazes dessa Patrulha não mereçam isso se eles são esforçados!»

— «Mas que deve pesar mais? Os jogos ou a apresentação da Patrulha?»

— «Sem querer ser radical, creio que possamos abolir certos quesitos da contagem de pontos. Por exemplo: não deveríamos tentar compensar o baixo comparecimento dos escuteiros nas reuniões aumentando o valor dos pontos descontados por cada ausência. Se a frequência deles é baixa, o problema não está na contagem de pontos, nem aí tampouco deveria estar a solução. Quanto ao asseio, é obrigação do escuteiro ter o uniforme em dia. Se geralmente ele anda mais desleixado que impecável, ainda que sua Patrulha perca alguns pontos por isso, então o problema tampouco se encontra na contagem de pontos, porque não é um problema da Patrulha. O asseio é algo que o próprio Movimento exige de cada um em particular a fim de conservar uma boa imagem ante os olhos do público em geral, já que é representado por cada escuteiro que anda pelas ruas. Lembremos também que cada escuteiro leva igualmente consigo o nome de seu agrupamento. Talvez o chefe, através de uma boa conversa em particular, possa entender o que está a suceder. Se for puramente desleixo, isso deve acabar o quanto antes e o chefe não deve negociar, nem ceder um milímetro que seja, mas explicar a conveniência do asseio. Quanto a uma peça do uniforme que o escuteiro tenha perdido e, no momento, ele seja incapaz de substituir, então já são outros quinhentos e devemos achar a melhor maneira de resolver o problema.»

— «Parece que o asseio e a presença não devem ser resolvidos pela contagem de pontos, mas somente incentivados por ela.»

— «As Patrulhas que se saem melhor na prática de técnicas escutistas devem ser, invariavelmente, as campeãs da contagem (e não "chantagem") de pontos. O que deve vir em primeiro lugar é, sem dúvida, aquilo que chamamos de Escutismo. Se um escuteiro não anda asseado ou não cumpre a Lei, então não estamos a falar sequer de um autêntico escuteiro nem tampouco do verdadeiro Escutismo. Jogos de futebol que, eventual ou frequentemente, possam ocorrer numa Secção, não devem pesar na contagem de pontos, ainda que vivamos no País do Futebol. O que realmente deve pesar é tudo aquilo que se refira à cozinha, pioneirismo, socorrismo e tudo o mais que faça parte do conteúdo que um bom escuteiro deve saber. A contagem de pontos não deve, ressalto, ir por caminhos que se afastem disso.»

— «Pensando assim, faz muito sentido. Não queremos que a melhor Patrulha de nossa Unidade seja aquela mais hábil a jogar futebol, nem a mais comportada ou bem penteada. Asseio não se discute e assuntos que competem ao Conselho de Guias não se resolvem pela contagem de pontos.»

— «Vejo que és tão radical quanto eu nesse assunto.»

— «Parece que sim.»


2

— «Mas quanto ao tempo que deve durar a contagem de pontos, já pensaste sobre isso?»

— «Em nossa antiga Flotilha, a competição era anual. Que sugeres?»

— «A melhor ideia que já vi a esse respeito [a do cap. Roland Phillipps, in O Sistema de Patrulhas] prevê que um período muito longo pode desmotivar aquelas Patrulhas que ficam muito para trás na contagem. Um período de seis meses, pensando bem, parece-me razoável. Não é muito longo nem muito curto.»

3

— «Vejo que em breve teremos de providenciar um troféu para a Patrulha vencedora.»

— «Um troféu é realmente uma boa ideia, mas, invariavelmente, ele fica na sede do agrupamento. Uma bandeirola de eficiência é a primeira coisa que deveríamos oferecer-lhes. Ela, depois de fixa à vara do Guia, acompanha a Patrulha aonde quer que esta vá. A bandeirola, ou a lembrança da vitória, estaria assim sempre a saltar aos olhos de todos. Numa actividade fora, alguém perguntaria "Que significa essa bandeirola?" e o Guia teria prazer em responder que a Patrulha dele foi a melhor da Secção nos últimos doze ou seis meses.»

— «Tínhamos mais de uma bandeirola de eficiência. Havia a de melhor Tripulação em reuniões de Grupo, a de melhor Tripulaçao em actividades de campo, e também uma para caças ao tesouro. A de eficiência em actividades de campo era uma flâmula verde com o sinal de pista "acampamento nesta direcção" em cor branca, ao centro, de ambos os lados da flâmula.»

— «Esta última deveria ser disputada a cada acampamento de Unidade, mas creio que devêssemos levar em conta todas as actividades de campo também, desde que praticássemos técnicas escutistas. Actividades de campo só no nome, em que passamos o dia na praia em banhos de mar ou a jogar futebol, ou mesmo tendo jogos escutistas, mas só do tipo quebra-gelo ou "indoor", não deveriam ser levadas em conta.»

— «Concordo. Ela só era disputada em acamapamentos, até que eles foram escasseando e, por um motivo ou por outro, a disputa deixou de existir. Ela acabou por ficar na vara de tua Tripulação. Essas coisas só acontecem mesmo a ti! A bandeirola deve estar no mesmo lugar até hoje!»

— «Se está, é por esquecimento e não por mérito. Não vejo nenhuma vantagem nisso.»

— «Se recordo bem, nossas bandeirolas eram passadas de Tripulação a Tripulação. Mas, se a Tripulação campeã perde a bandeirola? Ou, ainda, se a bandeirola sofre algum dano durante o ano ou semestre?»

— «Devemos conversar com os Guias e propor-lhes algumas regras. Por exemplo: cada Patrulha é responsável pela bandeirola enquanto ela estiver sob seus cuidados. A Patrulha deve, apesar de qualquer imprevisto, ser capaz de manter a bandeirola em sua vara e entregá-la à próxima campeã quando for chegado o momento. Em todo caso, teremos uma bandeirola reserva, cópia fiel da original, mas isso será um segredo do chefe, por motivos óbvios. Se chegarmos a usá-la, diremos inclusive que foi feita da noite para o dia por uma costureira insone! Os escuteiros não devem ter menos cuidado com a original por lembrar que há uma para emergências, nem imaginar que não confiamos neles o bastante. O que não queremos é que a Patrulha vencedora do último ano ou semestre, quando for o momento de receber a bandeirola, fique sem o prémio que lhe é devido. Eis aí a conveniência de uma bandeirola reserva. Mas, se isso acontecer, a Patrulha que tiver perdido ou danificado a original, ainda terá o dever de fornecer uma bandeirola sobressalente ao chefe, de modo que sempre tenhamos uma como reserva para uma eventualidade.»

— «Creio que seja uma boa precaução. Quando assumi a função de Timoneiro, a bandeirola de minha Tripulação, com o animal totem, tinha um furo que, segundo a lenda, apareceu misteriosamente num acampamento depois de a vara ter sido deixada fincada no chão.»

— «Aquilo era buraco de bala! Alguém deveria estar a caçar por perto ou apenas de passagem e...»

— «Essa é uma das versões para o caso, na verdade nunca saberemos.»

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