quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Diálogo III

Sobre por qual Secção começar o agrupamento, por qual ramo começar, mudança de ramo, e opção entre traje e uniforme


1

Calor... chuva. Verão ainda.

— «Como eu estava a dizer, devemos repensar velhos conceitos.»

— «Que seria melhor: começar por um Grupo Explorador ou Pioneiro?»

— «Há também outra pergunta, muito parecida, mas, no fundo, bem diferente: queremos um Grupo de Exploradores ou de Pioneiros? De Exploradoras ou de Pioneiras? Recordemos que há também os Lobitos e os Caminheiros. Pois bem! Suponhamos que quiséssemos um Grupo Pioneiro. Começaríamos por um Grupo Explorador para chegar lá ou começaríamos imediatamente por um Grupo Pioneiro? Pelo que já temos conversado, vejo que nossa vontade é abrir um Grupo Explorador, não é?»

Ròmeo assente e Bravo continua.

— «Agora sim responderemos tua pergunta. Que seria melhor? Começar pela Secção Verde ou pela Azul? A primeira opção seria a mais favorável. A maioria dos jovens ingressa no Movimento justamente através da Secção Verde; e o número total de rapazes e raparigas, nas restantes Secções do Movimento, nunca é tão grande como nessa aí.»

— «Sendo assim, comecemos pela Verde. Em todo caso, mais cedo ou mais tarde, haverá elementos com que formar um Grupo Pioneiro, porque cedo ou tarde os exploradores farão 15 anos.»

— «Seguramente.»

— «Mas suponhamos que nossos exploradores alcançem todos a idade de pioneiro e ainda assim não tenhamos um Grupo Pioneiro constituído.»

— «Nesse caso, devemos encaminhar os rapazes para outro agrupamento, de modo que eles possam continuar no Movimento Escutista. Não seremos egoístas, seremos? Mas o melhor a fazer é, obviamente, constituir nosso próprio Grupo Pioneiro. Assim o investimento que fizermos numa Secção continuará a dar "lucro" nas seguintes.»

— «Claro! Não formaremos os melhores exploradores do mundo para que sejam os melhores pioneiros noutro agrupamento!»

— «É por isso que, se abrirmos um Grupo de Exploradores, nossa próxima preocupação será abrir um Grupo de Pioneiros. Mas é claro que, se não o fizermos, tanto melhor para o agrupamento mais próximo.»

— «Não deixaremos que isso aconteça.»

— «E agora chegamos a um ponto importante. É preciso que haja Secções contíguas. Se quisermos que nossos exploradores se tornem chefes em nosso próprio agrupamento no futuro, também devemos ter um Grupo Pioneiro e um Clã. Há agrupamentos em que a maioria dos chefes são ex-escuteiros. Então, se pensarmos que a chefia é a "5ª Secção", não deveríamos deixar nenhum buraco no caminho que os rapazes farão desde a 1ª Secção até a última. Imagina que possamos ser um daqueles agrupamentos em que a participação dos pais como chefes é ínfima ou nula. Nesse caso, manter Secções contíguas seria uma das nossas maiores preocupações. Quanto mais tempo um rapaz fica num agrupamento, isto é, quanto mais laços há entre ele e o agrupamento, maiores são as probabilidades de ele se tornar chefe um dia.»

— «Então, se começássemos pelos pioneiros, nossa próxima preocupação seria abrir um Clã. Afinal, os pioneiros não se tornam exploradores, a não ser que possam voltar atrás no tempo.»

— «Nem os exploradores (que tão-pouco podem voltar atrás no tempo) se tornam lobitos. Mas recorda que, se não abrirmos uma Unidade para os pioneiros em tempo hábil, teremos de encaminhar nossos bons exploradores para outro agrupamento.»


2

— «Agora, quanto ao ramo, somos escuteiros marítimos e viemos de um agrupamento marítimo. Mas poderemos ter uma embarcação para começar?»

— «Na realidade não precisamos de "possuir" uma embarcação, mas, para começar, basta que tenhamos acesso a uma. Se seremos um agrupamento marítimo, realmente devemos pensar nisso. Para que nossos exploradores cheguem a Lis de Ouro [a distinção mais alta da U.E.B. concedida a exploradores e moços], haverá provas e comptências obrigatórias segundo o ramo. Seria injusto privarmos os rapazes de fazer essas provas e conquistar essas competências. Afinal, queremos o maior número possível de exploradores com o distintivo de Lis de Ouro no braço, não queremos?»

— «Certamente. Agora, vejamos... Como conseguiríamos uma embarcação?»

— «A curto prazo? Eis a questão...»

— «Talvez seja por isso que alguns agrupamentos marítimos sintam vontade de "migrar" para terra firme.»

— «Na verdade há agrupamentos marítimos que possuem todos os recursos para a prática do ramo. Estou a falar principalmente de ter uma embarcação. Mas ainda assim (apesar de todas as facilidades) eles comportam-se como verdadeiros agrupamentos terrestres, e as embarcações ficam esquecidas por longo tempo pela maioria, para uso exclusivo de uns poucos privilegiados. Mas o motivo nesse caso, obviamente, não é a falta de recursos ou a ausência de condições favoráveis; é bem outro. Infelizmente é o tipo de coisa que acontece.»

— «Não a nós.»

- "Sei que não será nosso caso. Queremos o ramo dos marítimos. O que nos falta, ao menos agora, são os meios para o praticar. Eu não queria um agrupamento marítimo só de fachada.»

— «Tão-pouco eu.»

— «De facto, os interessados em abrir um agrupamento devem decidir qual ramo adoptar. O que podemos propor aos demais é que seja aberto um agrupamento marítimo», diz Bravo, procurando pensar melhor sobre o assunto.

— «Caso eles optem pelo ramo dos escuteiros terrestres? Sabes como é... Há sempre alguém para dizer que agrupamento marítimo dá muito trabalho.»

— «Gente que nunca foi escuteiro marítimo, é claro!»

— «...E que é mais fácil ser um agrupamento terrestre, etc.»

— «Existe um equívoco muito grande aí. Há quem pense que um agrupamento marítimo faz tudo o que um terrestre faz, mais a parte de mar. Na verdade não é bem assim. Os três ramos são equivalentes. Vê bem. Não há competencias a mais quando um Marinheiro deseja chegar a Escoteiro da Pátria [a distinção mais alta da U.E.B. concedida a pioneiros e marinheiros]; o que há são as competências específicas de cada ramo.»

— «Parece que já não estamos a unir o que desejamos ao que é favorável...»

— «Talvez. Mas podemos fazer o seguinte: começamos pelo ramo dos escuteiros terrestres e, assim que possível, passamos para o ramo dos marítimos. Se for assim, é preciso que isso fique bem claro desde a abertura do agrupamento, de modo que procuremos, desde o início, obter não só uma sede própria, o que é desejável, mas também uma embarcação própria, o que é ideal. À medida que o agrupamento for crescendo, terá cada vez mais condições de adquirir uma embarcação, mas a ideia da mudança de ramo deve estar sempre viva, ou correrá o risco de não ser posta em prática.»

— «Achas possível "ir da terra ao mar"? É bem mais fácil fazer o caminho inverso. Há agrupamentos marítimos que falam sobre mudar de ramo, tu sabes.»

— «Suponhamos que já tenhamos um Grupo Explorador, um Grupo terrestre. Apanhar esses indivíduos e vesti-los de azul e cobrir suas cabeças com panamás da noite para o dia não me parece inteligente. Já estarão acostumados a serem escuteiros terrestres e, muito provavelmente, haverá recusa por parte deles quanto à mudança.»

— «Até agora, estivemos a falar do problema; falta a solução.»

— «Tradição é uma coisa que começa desde o primeiro dia. E mudar as coisas de repente não me parece o mais sensato. O que deve haver é uma transição. Essa é a palavra. Transição. Nada nos impede de ter um Grupo Explorador e uma Flotilha ao mesmo tempo. Assim que possível, portanto, quando o agrupamento já tiver uma embarcação ou acesso a ela, daremos início a uma Flotilha. Dessa vez, sim, serão escuteiros marítimos. Começaremos essa Flotilha também do zero. Como eu disse, tradição é algo que começa desde o primeiro instante. Não queremos escuteiros terrestres fantasiados de escuteiros marítimos.»

— «Entendo. E depois?»

— «Quando a Flotilha já estiver formada, teremos duas opções: 1) Manter ambas as Unidades; e 2) Extinguir o Grupo Explorador e manter apenas a Flotilha.»

— «Se mantivermos as duas, também teremos de ter um Grupo Pioneiro terrestre, não teremos?»

— «Não necessariamente. Os exploradores terrestres podem ir passando para a Frota e, daí por diante, serão do ramo de Neptuno, por assim dizer. Vê bem. Quando eles passarem de Secção, acharão um Frota já formada e, com o tempo, irão acostumar-se ao novo ramo. Como vão passando de uma Secção para outra aos poucos, não devemos preocupar-nos, porque é a maioria que influencia a minoria.»

— «E se optarmos apenas pelo ramo dos marítimos e passarmos a dever satisfações somente a Neptuno?»

— «Então chegará o tempo em que a lista de espera para o Grupo Explorador terrestre será aposentada. Pouco a pouco os exploradores do Grupo terrestre passarão para a Secção subsequente e, por assim dizer, "serão absorvidos pelo meio circundante", sempre muito maior em número. Os últimos e poucos elementos desse Grupo terrestre passarão todos juntos no momento mais oportuno que encontrarmos. Devemos recordar que não é preciso esperar que um rapaz faça 15 anos para que passe de Secção.»

Há uma pausa e um riso:

— «Então... vamos todos usar o uniforme cáqui e os meiões?» diz Ròmeo.

— «Parece que sim. Quem já foi lobito sabe do que se trata.»

— «Meu Deus! Que faremos no verão?» graceja Ròmeo.

— «Aguentaremos firme o calor e, em último caso, tiraremos os meiões! A não ser que seja um dia de inverno e esteja a nevar... Sempre há essa possibilidade por aqui, tu sabes.»

— «Nos trópicos? Claro! Meus pés já estão até a suar...»

— «O uniforme cáqui é bonito, mas, para ser honesto, há outra opção. Podemos usar o traje. É outra questão que não cabe só a nós decidir. O Conselho de Pais da Secção Autónoma a decidirá, mas penso que possamos influenciá-los bastante.»

— «Eu prefiro o uniforme cáqui, apesar do meiões.»

— «Eu também, mas devemos levar em conta que o traje possa ser o mais adequado à nossa realidade. Recorda que o custo dele é menor e talvez abramos um agrupamento num bairro pobre.»

— «Então vejamos. Daremos início ao agrupamento através de uma Secção autónoma de exploradores [ou, ad litteram, Seção autônoma de escoteiros] do ramo dos terrestres. Que é preciso?»

— «A Resolução 010/98 [da U.E.B.] diz o que é necessário: pelo menos dois dirigentes...»

— «No caso, nós dois.»

— «Obviamente. Nós dois para começar. Vejamos o restante...»

E leram com calma a Resolução.

Nenhum comentário:

Postar um comentário