quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Diálogo II

Sobre tamanho da Secção, tamanho das Patrulhas, e critério para a inserção de novos elementos na Patrulha


1

— «Andei a pensar», começava Bravo, «qual o tamanho ideal que um Secção deve ter?»

— «Queres dizer, quantos escuteiros uma Unidade deve ter?»

— «Exactamente.»

— «Quanto mais elementos, melhor.»

— «Todo chefe deseja uma Secção cheia. Todos admiram uma Unidade com muitos escuteiros, principalmente quando vêm de uma pequena. Eu também me animo com números. Mas voltemos àquela questão: que é melhor? Quantidade ou qualidade?»

— «Certamente, qualidade.»

— «Pois bem! Associar o tamanho da Secção à competência do chefe é um mito que deve ser desfeito. Não existe relação alguma entre o número de escuteiros inscritos numa Unidade e o valor de quem a dirige. Vê: alguns chefes compensam a baixa frequência de seus escuteiros nas reuniões mantendo a Unidade sempre cheia. E não lhes parece fazer mal que haja uma ou duas Patrulhas com 9 escuteiros, isto é, um Grupo de 34 ou 36 elementos! Como não há 100% de frequência, nunca estão presentes todos os elementos. É claro que 100% de assiduidade por parte dos escuteiros é algo raramente conseguido, mas que dirias tu de 40%, 50% de frequência? Seria normal? Certamente não. Uma Secção com excesso de gente sempre foi um artifício para compensar a baixa frequência.»

— «Meu Deus! Há Patrulhas com 9 escuteiros?! Deves estar a brincar.»

— «Preferes falar das Patrulhas com 10 escuteiros?»

— «Nove já é demais para mim!»

— «Às vezes, quando um escuteiro está prestes a começar a ligação de explorador a pioneiro, com meses de antecedência inclusive, muitos chefes não se importam de superlotar alguma Patrulha, principalmente quando, dos oito elementos já existentes, só metade deles comparece regularmente nas reuniões. Penso que as Patrulhas de nove escuteiros durem somente meses quando se trata deste último caso.»

— «Realmente já vi acontecer. Agora recordo-me. Mas, como há um revezamento entre os escuteiros, nunca se vêem os 9 elementos do conjunto ao mesmo tempo. Parece até planeado!»

— «Vejo que agora concordas comigo.»

— «Claro que sim!»

— «Pois bem! Não queremos Patrulhas de nove escuteiros e faremos de tudo para evitar isso. Se o problema está no baixo comparecimento dos elementos de uma Unidade, é aí que o chefe deve pôr a mão e operar. Claro: é mais cómodo superlotar a Unidade e enganar os parvos! Mas não creio que seja isso o que desejamos. Espero que ainda concordes comigo.»

— «Sim, eu concordo. Vejo que o X da questão é manter a frequência elevada. Então poderemos manter uma Secção com 32 escuteiros, tanto em teoria como na prática.»

— «Certamente. Esse é o Grupo de 32 escuteiros que deve ser elogiado, porque ele existe de facto e não só no papel para fins de estatística. Um Grupo Explorador com 32 em que haja realmente 32 é admirável!»

— «Então...?»

— «Pensemos um pouco mais a respeito. Uma Patrulha de exploradores pode ter [no Brasil] de 6 a 8 elementos. Porquê?»

— «Bem... Todo o mundo prefere Patrulhas com 8, o número máximo. Ou 9, o número supermáximo, como estavas a falar», diz Ròmeo, bem humorado, mas ainda sem achar uma resposta.

— «Devemos decidir se queremos Patrulhas de 6, 7 ou 8 escuteiros. Ter Patrulhas grandes, por exemplo, não seria o mesmo quer ter uma Secção grande?»

— «Parece que sim. Mas aí esconde-se também uma questão importante, não?»

— «Uma Secção com quatro Patrulhas, se cada uma delas possui 6 elementos, significa um Grupo de 24 escuteiros. Mas uma Secção com três Patrulhas, se cada uma delas tem 8 elementos, isso também significa um Grupo de 24! Devemos escolher a melhor maneira de organizar os escuteiros dentro de uma Secção. Entende-o bem. Agora não estou a falar só de Escutismo. Quando se trata de instrução, são sempre os menores grupos de pessoas que obtêm os melhores resultados (a não ser que alguns membros façam um esforço sobre-humano para elevar a média geral do grupo). Nos colégios, são geralmente as turmas menores que obtêm as maiores notas.»

— «Então, deixa-me ver isso. Teremos Patrulhas de meia dúzia de exploradores cada uma?»

— «Seria uma boa opção. Receio que, para começar, não possamos contar com um grande número de interessados. Sendo assim, não devemos querer o que não teremos ou, em última hipótese, o que não teremos tão cedo. Portanto, se não dispomos de quantidade, resta-nos ter qualidade. Para mim seria o bastante.»

— «A ideia apetece-me. Mas que os rapazes acharão disso?»

— «Teremos de conversar com eles sobre o assunto. Talvez seja uma longa conversa, mas devemos orientá-los da melhor maneira possível. De qualquer modo, talvez seja boa ideia começarmos por 7 ou 8 em cada Patrulha e, uma vez que consigamos manter um alto índice de comparecimento, ir reduzindo as Patrulhas (isso acontecerá naturalmente com o tempo, à medida que os rapazes envelhecerem) até que alcancemos o número de 6 em cada uma.»

— «De 6 a 8, 7 parece-me uma boa média para começar.»

— «A mim também.»

— «Mas eu andei a pensar. É preciso ter um curso para ser chefe?»

— «Não estou certo. Temos de nos informar sobre a parte burocrática. De qualquer modo, deverias fazer um curso.»

— «Quando haverá outro?»

— «Primeiro pergunta quais são e em que ordem deves fazê-los. Deves começar [no Brasil] pelo "Curso Preliminar". Depois virá o "Curso de Técnicas Escutistas" [ad litteram, Curso de Técnicas Escoteiras] e a seguir o "Curso Básico da Secção Exploradora" [ad litteram, Curso Básico do Ramo Escoteiro]. Há um "curso básico" para cada uma das quatro Secções, de modo que poderias optar pelo "CB Pioneiro" ou "Caminheiro" [ad litteram, CB Sênior ou Pioneiro], por exemplo. As datas dos cursos não sei dizer no momento, mas há um calendário desses cursos e podemos informar-nos facilmente. Afinal, não tens ainda tua Anilha de Gilwell.»

— «Ao menos tu já tens a tua.»

— «Espero não ser o único nos próximos meses. Também devemos informar-nos sobre os requisitos para se abrir um agrupamento.»

— «Será muito complicado?»

— «Não sei, mas procurarei saber. Talvez na Internet eu ache alguma coisa para começar.»


2

— «Qual o maior erro que poderíamos cometer à frente de uma Unidade?» pergunta Ròmeo, dando continuidade à conversa.

— «O maior erro? Vejamos... Eu não sei bem, mas há uma série de pequenos erros que poderíamos cometer.»

— «Por exemplo?»

— «Imagina um Grupo de 32 exploradores. Mais cedo ou mais tarde todos atingem a idade de 15 anos e, irremediavelmente, embrenham-se no caminho sem volta que é a ligação 2ª/3ª Secção. Há também desistências aqui e ali e o Grupo vai minguando de modo que a "Jungle" sozinha nunca seja capaz de fornecer lobitos em quantidade suficiente à cidade dos homens. Pois bem! Há Grupos que vão minguando de 32 para 25... 21... 18 e, crê!, inclusive para o número de 15... 10 escuteiros! Então são convocadas três ou quatro dezenas dentre aqueles inscritos na lista de espera. Mesmo entre esses inscritos há desistências e, ainda que cinquenta sejam convocados, nem sempre todos comparecem. Há vários motivos para isso, mas um deles, certamente, é o longo tempo que esperam até que fossem chamados. Alguns, nesse ínterim, chegam a atingir a idade de pioneiro! Então, é preciso convocar uns cinquenta interessados para que compareçam trinta ou vinte!»

— «Isso aí é uma piada, mas realmente acontece!»

— «E, da noite para o dia, a Secção estará repleta de novatos!»

— «Meus Deus! Todo o esforço que empregaste nos Guias não será repassado adiante, pois teus Guias e subs já estarão no Grupo Pioneiro ou, se ainda não estiverem, logo estarão lá definitivamente!»

— «Feliz do chefe pioneiro! Terá os melhores elementos do Grupo Explorador!»

— «Exactamente isso! E antes que os exploradores mais experientes tenham tido oportunidade de instruir os novatos! Um chefe que permita essa aberração em sua Secção não sabe o que é "continuidade". E para um bom chefe essa palavra é mais que sagrada.»

— «Se os mais velhos não puderem passar nada aos mais novos, que será da Secção?»

— «É como se tivesses que recomeçar a Unidade do zero. Já o fizeste uma vez, não precisas de o fazer de novo. Imagina acordar num belo dia e deparar com uma Secção cheia de novatos! Às vezes os poucos exploradores que ficaram para trás, porque ainda não atingiram a idade mínima para estarem no Grupo Pioneiro, também são novatos!»

— «Se é assim, porque alguns chefes permitem tal coisa?»

— «Não sei bem o motivo. Comodismo talvez.»

— «Eu diria burrice!»

— «É uma das possibilidades. Não a descarto. Mas não se pode negar que uma leva de 20 ou 30 novos escuteiros anime qualquer Secção que esteja com o moral em baixa. Há sempre entusiasmo com a chegada de novos elementos e, quanto maior a leva de aspirantes, maior o ânimo inflamado nas pequenas Patrulhas, que minguaram até à beira da extinção. Dois ou três elementos que cheguem a uma Secção grande não causam o mesmo sentimento de ânimo e reflorescimento.»

— «Parece que esse é o maior dos erros que um chefe poderia cometer.»

— «Não estou bem certo, mas, se não for o maior, seguramente é um dos maiores atentados que podem existir contra o bom funcionamento de uma Unidade. Deus nos livre de cometer esse pecado!»

— «Ámen!» diz Ròmeo, bem humorado.


3

— «Vês como variar a idade dos escuteiros é importante para o bem da Secção?»

— «Não seria boa ideia se os exploradores que darão ínicio à Unidade tivessem todos, suponhamos, 14 anos. A curto prazo seria o caos.»

— «No início havia o Caos, lembra-te da Bíblia. Mas isso era apenas no princípio; não precisa de suceder duas vezes. Como já o percebeste, será boa ideia reunirmos preferencialmente rapazes entre 11 e 13 anos, tanto para aquela primeira leva que será o embrião da Secção, de onde sairão os primeiros Guias, como para a segunda. Desse modo eles terão, por assim dizer, uma "vida útil" na Unidade de pelo menos 2 anos. Se todos tivessem mais ou menos a mesma idade, passariam mais ou menos ao mesmo tempo para o Grupo Pioneiro. Se todos da primeira leva, por exemplo, tivessem 14 anos, só permaneceriam no Grupo Explorador um ano, e apenas alguns meses com os novatos da segunda leva. E até que estes façam a Promessa...»

— «Isso geralmente leva três meses, não?»

— «Ou mais. E é preciso esperar o tempo que for necessário. Três meses é apenas uma estimativa. Mas continuemos com o raciocínio: além deste último, quais critérios deveríamos adoptar para o ingresso de novos elementos na Unidade?»

— «Em nosso tempo, o chefe mandava que a Secção formasse em ferradura, olhava para aquela Patrulha que tivesse menos elementos...»

— «Que, às vezes, tinha mais escuteiros do que aqueles presentes na ocasião...»

— «E dizia: — "Vai, tu ficas naquela Patrulha."»

— «É um belo critério de escolha, mas posso apresentar-te outros.»

— «Vai em frente. Depois compararemos os dois critérios e decidiremos qual é o melhor!»

— «Na verdade estou a falar de critérios, no plural. É mais de um e menos de 99! Vejamos... Certamente sabes que a Patrulha deve aceitar de antemão o novo elemento. Ela deve ser consultada previamente e, não, informada no último momento sobre a decisão do chefe. Deve haver, portanto, um Conselho de Patrulha. Da mesma forma que o chefe não deve decidir só, o Guia tão-pouco deveria fazer o mesmo.»

— «Suponhamos que uma Patrulha não aceite certo rapaz. Que acontece então?»

— «Em primeiro lugar, a Patrulha não é nossa; pertence a seus componentes. Eles têm o direito de aceitar ou recusar um novo elemento. Um "estranho" não entra numa casa a qualquer momento ou sem o consentimento do proprietário. Deve haver consentimento. Sendo assim, devemos aceitar as escusas da Patrulha quando é negado o ingresso a um novo elemento. O candidato cujo nome foi preterido, obviamente, não precisa de ter conhecimento disso. Ou, façamos melhor: apresentemos às Patrulhas uma lista de novos interessados em entrar no agrupamento, e as Patrulhas escolhem aqueles com quem desejam compartilhar a vida em Patrulha. Às vezes, principalmente em cidades pequenas, os interessados já são conhecidos por ao menos alguns elementos da Secção. E, se mais de uma Patrulha decidir adoptar este ou aquele "pata-tenra", veremos adiante outros critérios de desempate, por assim dizer.»

— «Mas quais seriam os motivos de recusa?»

— «Desde os mais relevantes até os mais banais possíveis. Mas nunca vi uma recusa e creio que seja extremamente rara. De qualquer modo, penso que a recusa deva ser aceite. O chefe deve limitar-se a orientar, instruir e aconselhar, mas paremos por aí.»

— «E se uma Patrulha aceitasse alguém preterido por outra, da mesma Unidade?»

— «Não vejo mal nenhum nisso se os motivos da recusa pela primeira Patrulha tiverem sido banais. Caso os motivos sejam graves, e não precisamos de citar exemplos, creio que o próprio agrupamento recuse o candidato, e antes mesmo de levar a opção a qualquer Patrulha.»

Ròmeo dá uma risada:

— «Há Unidades em que o chefe, quando sabe que há alguma desavença entre dois rapazes, obriga-os a ficar na mesma Patrulha. E tu sabes: às vezes o tiro sai pela culatra.»

— «Não queremos que haja xingamentos ou discussões violentas em nosso futuro agrupamento. Muito menos alguns murros trocados, a não ser que estejamos a falar da competência de Pugilismo! Alguns escuteiros sentem coceira justamente nos punhos e então decidem coçar as mãos nos queixos de suas desavenças.»

— «Alguns rapazes são realmente dados a brigas.»

— «O objectivo, devo ressaltar, é sempre reunir na mesma Patrulha rapazes com o maior número possível de afinidades e, não, o contrário. Quanto mais parecidas são as pessoas, mais tendem a agrupar-se; é algo que acontece naturalmente. Um bom psicólogo saberia explicar-nos isso melhor ainda. Por incrível que pareça, até mesmo pessoas de QIs semelhantes juntam-se espontaneamente. Não são, portanto, as diferenças que unem as pessoas, mas as semelhanças. Sendo assim, porque empregar um meio artificial para manter coeso um pequeno grupo de pessoas quando podemos permitir que isso suceda naturalmente?»

— «Pois bem! Já está claro que a Patrulha deve aceitar o novo elemento. Que mais seria importante?»

— «O segundo critério seria a idade. Ela deve variar o máximo possível entre os escuteiros que compõem uma Patrulha. Recorda que queremos evitar o caos.»

— «Seguramente! Teremos na mesma Patrulha exploradores de 11, 12, 13 e 14.»

— «Sim. Tanto quanto seja possível!»

— «Haveria outro critério?»

— «O terceiro critério em ordem de importância, já que o primeiro é a aceitação pela Patrulha e o segundo é a idade, seria a localização ou, como dizem em Portugal, "morada".»

— «"Morada"?»

— «O.K., voltemos a falar "brasileiro". O que eu quero dizer é: devemos fazer com que os elementos de uma Patrulha morem mais ou menos próximos uns dos outros. Isso facilitará a vida deles quando for preciso que se reúnam por um motivo ou por outro. Por exemplo: para que não tenham de se deslocar por grandes distâncias quando tiverem de se organizar para um acampamento se concordamos que, mesmo num acampamento de Unidade, as Patrulhas são unidades independentes que se organizam por conta própria para as actividades. Ou, ainda, para que rapazes do mesmo bairro e arredores encontrem facilidades se desejam realizar reuniões de Patrulha. Ou até mesmo para que seus pais, por serem do mesmo bairro ou vizinhança, se sintam mais estimulados (ou mais à vontade diante de seus vizinhos) quando tiverem de se organizar em nome dos filhos, nem que seja para que um adulto encontre maior comodidade ao dar boleia aos companheiros de Patrulha do filho.»

— «Bom; muito bom. Eu nunca tinha pensado assim.»

— «Se pudermos ter uma mapa do arruamento da cidade (tu já deves ter visto um), e se tivermos alguns daqueles percevejos de cores sortidas, poderemos fixar o mapa num quadro de avisos e, ao dar uma cor a cada Patrulha, localizar no mapa a morada de cada escuteiro com o percevejo correspondente, como fez Delta com sua Secção em Opiniões de Delta [obra de Rex Hazlewood]. Desse modo, percevejos da mesma cor deveriam estar mais próximos uns dos outros que aqueles de cores diferentes. Vês? Podemos facilitar a vida deles.»


4

— «Gostei da ideia do mapa. Mas... "Se eu posso dificultar, porque facilitar?"» diz Ròmeo, imitando alguém e pergunta: — «Lembras? Nem sempre tivemos chefes bonzinhos.»

— «Tão-pouco nós dois seremos bonzinhos. Seremos, isso sim, chefes implacáveis. Mas sem maldade ou sadismo! Seremos inflexíveis em matéria de boas reuniões e actividades.»

— «Seremos severos a oferecer óptimas reuniões e, com regularidade, boas actividades.»

— «Sob esse ponto de vista, já tivemos chefes bem bonzinhos. Bonzinhos até demais! E nossos escuteiros não saberão, a não ser em suas aulas de Educação Física no colégio, o que são flexões.»

— «Concordo contigo em género, número e grau. Tão-pouco me apetecem as flexões. Mas, devo dizer, era engraçado quando Ìndia tinha de as fazer e, no entanto, só era capaz de levantar o traseiro! Era sempre ele!»

— «Só com ele tinha tanta graça! Com os outros, ou conosco, não era a mesma coisa. Se o chefe aplicava um jogo, todos esforçavam-se por vencer, pois os perdedores corriam o risco de "pagar dez" [fazer dez flexões]. Um dia, quando Ìndia tinha finalmente vencido um jogo, ficou feliz da vida por pensar que escaparia às flexões.»

— «Eu lembro! Então o chefe, para a infelicidade de Ìndia, disse-nos: — "Desta vez, os vencedores é que pagam dez!"»

— «Era engraçado», diz Bravo, «mas não queremos esse tipo de coisa em nossa futura Secção, queremos? Nem penso que seria do agrado dos pais.»

— «Claro! Até mesmo porque, depois de Ìndia, nunca mais será tão engraçado como antes!»


5

— «O.K., voltemos ao fio da meada. Já temos, então, três critérios dispostos em ordem de importância para a admissão de novos elementos: 1) Aceitação pela Patrulha; 2) Máxima variação possível entre as idades dos elementos; e 3) Localização ou "morada".»

— «Falta algum critério?»

— «Não sei bem como dizer. Creio que a palavra certa seja "afinidade". Sei que já usamos essa palavra hoje, mas ainda assim falta polir essa ideia, passar-lhe uma lixa aqui e ali...»

— «Por exemplo?»

— «Há Patrulhas em que todos os elementos conquistam a mesma competência, isto é, há Patrulhas em que todos ou quase todos os escuteiros são carpinteiros ou músicos. Mas isso não acontece sem motivo. É preciso enfeixar, na mesma Patrulha, rapazes com os mesmos gostos e habilidades.»

— «Sei aonde queres chegar. Mas se esses escuteiros não estivessem reunidos numa só Patrulha? Faria muita diferença?»

— «Sim, porque os elementos da mesma Patrulha mantêm mais contacto uns com os outros. Desse modo, o incentivo entre eles é maior. Também podemos estimular isso ressuscitando um velho hábito: dar uma bandeirola de efiência àquela Patrulha cujos elementos todos tiverem conquistado a mesma competência ou, para que não lhes tornemos as coisas muito difíceis, conceder essa bandeirola à Patrulha que tiver pelo menos cinco competentes em Metalurgia, por exemplo. Devemos contribuir para que o maior número possível de escuteiros de uma Patrulha tenha interesses em comum. Na verdade, o ideal é que todos os escuteiros de uma Unidade se interessem pela mesma competência e ao mesmo tempo.»

— «Mas como sabemos os interesses deles? Quero dizer, antes que entrem para a Unidade?»

— «Podemos perguntar aos pais ou, o que seria melhor, directamente ao próprio rapaz quais são seus interesses, seus passatempos, o que gostaria de fazer, etc. Creio que já haja na ficha de inscrição um espaço para esse tipo de coisa, mas podemos "alargá-lo", por assim dizer.»

— «Seria muito bom se agíssemos assim.»

— «A não ser, claro, que 100% da Secção possuísse gostos ou objectivos exactamente idênticos, o que seria uma dádiva para o planeamento das etapas ou competências a alcançar aqui na Terra. Mas milagres, tu sabes, não acontecem todos os dias.»

— «Mas vejo que podemos contribuir para situações favoráveis.»

— «Sim, decerto. Essa será uma de nossas atribuições. Facilitar. Mas enquanto milagres não vêm, devemos respeitar aqueles que desejam certa competência.»


6

— «Parece que já nos entendemos sobre um bocado de coisas. Que mais falta?»

— «Devemos repensar todas as ideias que conhecemos sobre Escutismo. Não haveria momento melhor. A maioria das pessoas "herda" ideias e age de acordo com elas sem parar um segundo para pensar a respeito. O que estou a dizer não é nenhuma novidade, mas a maioria das ideias herdadas costuma estar errada. Lembra-te do Mito da Secção Grande. Ele deve ser revisto. Tanto tu como eu devemos estar cheios de "reflexos condicionados", herdados ao longo de muitos anos de Escutismo. Se começaremos do zero, e ainda não o fizemos, devemos livrar-nos do maior número possível de ideias "tortas". Ou seja: se não temos a nosso favor o peso de um passado ou quaisquer tradições, saibamos ao menos fazer uso do que temos: que é começar do zero.»

— «Vejo que temos muito a nosso favor. Mais do que eu pensava.»

— «Falta-nos ter outras conversas sobre o futuro agrupamento. No início será apenas um Grupo de Exploradores, é claro, mas por enquanto permite que eu te diga algo mais antes de ir.»

— «Eu te darei boleia. Mas fica à vontade para começar agora ou diz-mo pelo caminho.»

— «Claro! Terei prazer em dizer.»

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